terça-feira, 23 de junho de 2020

Um Sonho

  Dormia tranquilamente no nosso apartamento no Palácio do Jaburu, quando acordei com um barulho de água vindo da piscina. Água e concreto sempre foram uma grande parte da arquitetura da minha casa. Queria acordar Charlie, me virei para o lado e percebi que ele não estava à meu lado. Ele sempre dorme do lado da cama mais perto da porta porque diz que assim me protege. Fiquei intrigada.
  Me levantei ainda um pouco sonolenta, vestindo meu pijama roxo de seda, um presente dele. Saí do quarto, e quanto mais eu me aproximava da piscina da casa, maior o barulho de água ficava.
 ---- Charlie? (Falei numa voz baixa, e assustada).
 Pelo barulho parecia que um trator caía dentro d´água, e depois de uns segundos caía de novo. Achei que minha casa tinha sido invadida. Peguei  uma faca para me defender.
  Cheguei até a sala com uma grande porta de vidro que me dava um panorama da pisciana. O que eu vi me deixou estupefata. Charlie virado de costas para mim, de pijama, e olhando como um zumbi para a piscina. Dei graças a Deus, e abri a porta de vidro para ir ao seu encontro, Pensei: "Ele só deve estar sonambulizando, como eu as vezes faço".
  Toquei no seu ombro, com a mão direita, e com a faca ainda na mão esquerda:
 ---- Meu amor?
  Foi quando olhei nos seus olhos, e quase caí para trás, ou enfiei a faca no meu próprio marido. Seus olhos estavam negros como jabuticabas, não havia sinal daquela parte branca, que os olhos de um ser humano tem. E sua pele brilhava de um jeito oleoso.
  Ele sorriu, um sorriso com dentes enormes, afiados, e muito brancos. Eram tantos que não pude contar. Caí de bunda no chão e me afastei dele ainda com a faca empunhada.
  Foi quando ele fez o inimaginável, ele pulou de roupa e tudo dentro da piscina. Como ele não nada nem, caí em prantos.
 ---- Charlie, pelo amor de Deus! Saí da piscina!!!
  Me aproximei da beirada da piscina, e me deparei com o pior. Um grande tubarão branco nadando dentro da piscina. Dei um grito de pavor. Senti alguém pegar no meu braço e foi quando eu acordei, aos prantos.
 ---- Tá tudo bem meu amor, foi só um pesadelo. 
  Os olhos dele a meia luz ainda me assustavam um pouco.
 ---- Com o quê você sonhou?
  Fiquei envergonhada de contar à ele, que ele era o objeto de terror do meu sonho, e só disse:
 ---- Sapos, sapos horríveis.
  Ele me deu um abraço e eu estremeci, de medo e de prazer. Disse- me:
 ---- Tá tudo bem.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Tudo Sou Eu

 Eu sou a macaca, a garota moribunda, a dona dos gatos fétidos. Aquela que tem que ter o Fusca destruído. A que tem um marido que gosta de flertar com qualquer uma. A desculpa certa para fugir dos seus problemas.
 Não importa o problema, é só por a culpa em mim, ou nos meus gatos. Meu marido é um Marsupial.E agora não sei se ele é racista, se é burro ou louco. Eu também fui burra por uns dias, acreditei na bondade alheia. Ninguém compartilha nada, se não tiver querendo algo em troca.
 Mas consigo tomar meu chá, e já escuto acusações. Cada dia um problema novo, que se resolveria muito fácil. Se eu só estivesse na minha casa com meu Marsupial e meus gatos. Ele me chamou de macaca, mas estranhamente eu não me senti ofendida. Me senti ofendida pelas Rafaelas. Essas sim me ofendem.
 Passei a manhã chateada com isso, e agora estou sendo usada para que alguém não pague o aluguel. Eu também sou o Seu Madruga.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Procrastinar, ou não Procrastinar, eis a Questão...

 Muito necessária. É duro se deparar com a realidade de estar vivo. Que consiste em perceber que é melhor se manter em movimento. Se você está vivo vai perceber que é muito difícil (na verdade é impossível) ficar parado. Mesmo quando se medita, você respira e logo está fazendo alguma coisa.
 Por isso, eu gosto de dormir, gosto de não me lembrar das horas que fiquei inconsciente. Apesar de lembrar de alguns sonhos. Gostaria de passar mais tempo dormindo como quando era adolescente. Dormia muito, e mais um pouco.
 Agora durmo cedo, pouco, e já acordo cansada. Como tenho que esperar Charlie, dormir para mim, é uma ótima opção de espera. Pena que não consigo dormir de dia. Se dormi foram apenas umas três vezes na minha vida. Duas delas porque estava doente, se não me engano a terceira também. Devido a doença mental que tive.
 Voltei cansada do médico, e acabei dormindo. Charlie participa de uma série em que ele finge ser um médico, e eu não sei porque...isso me assusta. Nunca gostei de hospitais, e consultórios, nem nada do gênero. Não entendo como tem tanta gente que gosta de séries hospitalares. Eu tenho agonia.
  Ele ao contrário adora, em parte porque me assusta, Diz que "queria ser meu médico", um que me assediou de uma forma branda uma certa vez que estava doente. Eu não vejo graça, mas talvez me faça bem conviver com isso. Perder os meus medo. Enquanto isso passo o dia ou procrastinando, ou fazendo tarefas "muito importantes". E me lembrando dos dias que terei que sair de casa, que me causam ansiedade. Cosa de que nunca sofri.
 Comecei a me sentir assim quando passei pelo trauma do hospital de Emergência. Gostaria que aquilo nunca tivesse acontecido, pois isso me mudou para sempre. Antes vivia sem esperar nada da vida, agora queria que coisas legais me acontecessem, porque pode ser que eu morra amanhã. Ou hoje, nunca se sabe. Agora eu não sei mais de nada. Ele é que sabe.