Dormia tranquilamente no nosso apartamento no Palácio do Jaburu, quando acordei com um barulho de água vindo da piscina. Água e concreto sempre foram uma grande parte da arquitetura da minha casa. Queria acordar Charlie, me virei para o lado e percebi que ele não estava à meu lado. Ele sempre dorme do lado da cama mais perto da porta porque diz que assim me protege. Fiquei intrigada.
Me levantei ainda um pouco sonolenta, vestindo meu pijama roxo de seda, um presente dele. Saí do quarto, e quanto mais eu me aproximava da piscina da casa, maior o barulho de água ficava.
---- Charlie? (Falei numa voz baixa, e assustada).
Pelo barulho parecia que um trator caía dentro d´água, e depois de uns segundos caía de novo. Achei que minha casa tinha sido invadida. Peguei uma faca para me defender.
Cheguei até a sala com uma grande porta de vidro que me dava um panorama da pisciana. O que eu vi me deixou estupefata. Charlie virado de costas para mim, de pijama, e olhando como um zumbi para a piscina. Dei graças a Deus, e abri a porta de vidro para ir ao seu encontro, Pensei: "Ele só deve estar sonambulizando, como eu as vezes faço".
Toquei no seu ombro, com a mão direita, e com a faca ainda na mão esquerda:
---- Meu amor?
Foi quando olhei nos seus olhos, e quase caí para trás, ou enfiei a faca no meu próprio marido. Seus olhos estavam negros como jabuticabas, não havia sinal daquela parte branca, que os olhos de um ser humano tem. E sua pele brilhava de um jeito oleoso.
Ele sorriu, um sorriso com dentes enormes, afiados, e muito brancos. Eram tantos que não pude contar. Caí de bunda no chão e me afastei dele ainda com a faca empunhada.
Foi quando ele fez o inimaginável, ele pulou de roupa e tudo dentro da piscina. Como ele não nada nem, caí em prantos.
---- Charlie, pelo amor de Deus! Saí da piscina!!!
Me aproximei da beirada da piscina, e me deparei com o pior. Um grande tubarão branco nadando dentro da piscina. Dei um grito de pavor. Senti alguém pegar no meu braço e foi quando eu acordei, aos prantos.
---- Tá tudo bem meu amor, foi só um pesadelo.
Os olhos dele a meia luz ainda me assustavam um pouco.
---- Com o quê você sonhou?
Fiquei envergonhada de contar à ele, que ele era o objeto de terror do meu sonho, e só disse:
---- Sapos, sapos horríveis.
Ele me deu um abraço e eu estremeci, de medo e de prazer. Disse- me:
---- Tá tudo bem.