Na minha nova casa, eu quero um aquário, bem equilibrado, muito bem climatizado, e com peixes que convivam em harmonia. Tem alguma coisa mais oriental do que um aquário? Sempre fui fascinada por aquários desde que frequentava o primário. Minha mãe Carolina me conta que depois da aula era muito difícil me tirar da escola. Porque eu não queria deixar de ficar na recepção da escolinha observando o aquário instalado lá. Ela me conta que tinha raiva porque as professoras achavam que ela me maltratava, eu saia da escola chorando, e ia me agarrando nos postes pelo caminho porque queria ficar perto do aquário.
Então imagine a cena, eu berrando na rua me agarrando em postes, e minha mãe tentando me carregar para casa. As crianças choravam para ir embora, eu chorava para ficar. No início da minha adolescência quando Capitu morava num condomínio de judeus, lembro que ganhei de presente um kit de aquarismo, de amigos com benefícios de meus pais. Foi terrível, não sabia o que estava fazendo coloquei muitos peixes no aquário, não fiz a ciclagem... enfim, matei todos os peixes sufocados. Por isso, conversei com Charlie quando ainda namorávamos, e ainda não tínhamos nos mudado para o Palácio do Jaburu:
Capitu: Eu quero um aquário.
Charlie: Você já tem um, meu signo é de aquário.
Capitu: (Risos) Não, eu quero aquários na minha nova residência. Não só um, vários.
Charlie: Pra que tantos?
Capitu: Eles me acalmam, me fazem esquecer o barulho, as pessoas falando no meu ouvido. Passando sempre na minha frente...
Charlie: Como assim passando na sua frente?
Capitu: Eu não sei como explicar isso, mas acho que a melhor forma de explicar, seria uma espiral, como um furacão sabe? Fica todo mundo rodando em volta de mim, e tentando me irritar, me atrasar, e bloquear minha passagem. Aquários sempre me acalmaram, fora que são lindos.
Charlie: E custam caro, dão trabalho... é um hobby muito sério.
Capitu: Sim, por isso eu vou começar pelos aquários de água doce, que são por onde todo mundo começa. Um peixe beta fêmea, não mais que um, senão ela mata todos os outros, independente do tipo de água que eles estejam, ácida ou alcalina. E mais outros tipos que se adaptem a ela, e ao tamanho do aquário.
Charlie: Tem outros tipos, onde você aprendeu tudo isso?
Capitu: Canais de aquaristas no youtube. Sim, tem os de água salgada, que são os mais estranhos, e os mais bonitos também.
Charlie: Estranhos?
Capitu: Sim, se você chegar num nível de aquarismo que consiga equilibrar bem um aquário de água salgada, é como se ele tomasse vida própria. Os peixes se reproduzem, as algas também, algas que brilham no escuro, bichinhos eclodem como se fosse do nada... Eu acho incrível!
Charlie: É como brincar de Deus?
Capitu: Como assim?
Charlie: No mar isso já acontece, porque você não pratica mergulho?
Capitu: Sempre tive medo de tubarões, desde criança tenho esse medo sem fundamento.
Charlie: Tem fundamento, tubarões são perigosos.
Capitu: Sim, mas no Brasil não tem tubarão, ainda. (E sorriu alegremente para Charlie)
A Capitu tem dessas frases que parecem um pouco sem sentido para alguns, mas em algum lugar na sua mente, e memórias infantis, ela sabe que tudo o que ela quer, um dia ela consegue. Num importa se nessa vida ou na outra.
Capitu: Quem matou o John Lennon?
Charlie: Mas que pergunta é essa agora? Não sei Capitu, não quero falar sobre isso...
A Capitu nunca gostou muito da figura da Yoko Ono, muito menos dos Beatles, ela sempre achou a oriental uma grande irresponsável por largar seus filhos para viver com um rockstar. Mas agora queimou a língua e entende como é difícil perder alguém que se amou tanto. Quando o Charlie não está comigo é como se ele tivesse levado um tiro como o John Lennon. Charlie está passando um período em Nova York a trabalho. Dos seus afazeres governamentais, ela ficou sabendo por Anitta que houve um tiroteio perto do edifício Dakota, onde o Beatle foi morto. Por isso Capitu ligou para o presidente dos EUA para saber o que estava acontecendo...
Capitu: O que está acontecendo dessa vez? Você não consegue controlar a agressividade passiva do seu povo amoroso?
Trump: Mas hora vejam só, nosso relacionamento fica cada vez mais profundo, agora até liga pra mim diretamente. Se tiroteios acontecem não é culpa do governo, eu não posso controlar todos os americanos!
Capitu: Você não controla nem a direção do vento que levanta seu cabelo que parece uma peruca. Liga para o FBI, e vê se o Charlie está vivo. Agora ele é muito famoso, é casado com uma política, ele é um alvo fácil.
Trump: Mas você não colocou escolta em volta do seu marido?
Capitu: Claro que sim, eu não sou idiota.
Trump: (Um senhor muito desagradável que eu evito conversa, mas o Charlie não atendia o celular, o que eu podia fazer? E nem ninguém da escolta atendia minhas ligações.) Olha, se você não consegue controlar seu marido isso não é problema meu, as vezes ele nem está nesse hotel, e pode até estar em companhia de outras moças mais mansinhas. (E bateu o telefone na minha cara).
Porque a America elegeu esse bebê chorão eu não sei. Capitu foi se desesperando porque Azrael estava no hotel junto com ele. Mas eu sempre tive um comportamento de não me exaltar muito em situações ruins, eu resolvo o problema, e choro depois. Por isso, ligou para o filho, rezando para que ele atendesse, ele costuma esquecer de levar o celular para todo o lado como o pai leva. E é desses que visualizam e não respondem. Ele atendeu depois de uns 6 segundos, acreditei que devia estar assustado com os tiros:
Capitu: Meu filho, você está bem? Que barulho é esse?
Azrael: Tá tudo bem mãe. (Mastigando alguma coisa)
Capitu: Como assim tá tudo bem? Que barulhos são esses, são tiros?
Azrael: (Meu filho já tinha 7 anos) Tiro? Não, é rojão.(rindo) De onde você tirou isso?
Capitu: A Anitta sempre se antecipando e errando o alvo. (Pensando: "Eu vou demitir essa tresloucada") Porque eles estão soltando rojão, eu liguei até pro Trump, que vergonha...
Azrael: É por causa do campeonato de basquete, o Brasil perdeu, eles adoram esses jogos...
Capitu: Ah, graças a Deus. Que tá tudo bem,porque você não está mandando resumos do seu dia no whatsapp como eu pedi?. Se cuida, e manda um beijo pro seu pai. Não fala para ele que eu surtei aqui. Não quero estressar ele, eu sei que ele está preocupado com o trabalho.
Azrael: Mãe, eu vou assistir um jogo da NBA.
Capitu: Ah, que felicidade, veste o casaco a prova de balas por debaixo da blusa.
Azrael: Eu já disse que não vou usar isso, os seguranças já fazem as meninas acharem que eu sou um esquisitão.
Capitu: Eu não tô em aí para o que acham, coloca o casaco, e respeita os seguranças, não é pra dar perdido, que nem você fez na Itália, senão eu vou ligar para o FBI!
Azrael: Tá bom mãe, tchau, beijo.
Meu filho é muito difícil, me dá taquicardia, é mais difícil monitorar ele do que o desmatamento e queimadas na Amazônia.