sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Ansiedade de Período de Fim de Ano

 Não gosto de fogos de artifício barulhentos, nunca gostei, mas agora tenho o adendo de que eles aceleram meu coração. Aconteceu isso no Natal, quando deitei na cama depois de tomar remédios que me dão sono, começaram os fogos. E eu sonolenta ouvindo aquilo, deitada em uma posição que de repente se tornou incomoda, senti meu coração acelerar, como se eu fosse uma criança e nunca tivesse passado por um reveillon. Finais de ano sempre me deixaram apreensiva não sei porque, na verdade nada realmente vai acontecer, são as pessoas que tornam esse período um grande evento. Não entendo a felicidade de comemorar finais. Não gosto de finais, nunca gostei e agora além de tudo ando com uma sensação de vazio muito estranha que nunca tive na vida.
 Essa sensação me faz querer estar perto de alguém, sempre gostei de ficar sozinha, mas essa nova sensação assustadora me faz pensar que seria bom ter alguém com quem pudesse contar. Percebi que sou uma pessoa muito sozinha, nunca tinha me atentado a isso. Eu era a Rainha Elsa de Frozen que ficava hiper feliz no seu castelo de gelo afastado de todos, mas essa doença da alma está me transformando em alguém que eu não quero ser. Medrosa e dependente. Não que precisar da companhia de outras pessoas seja algo ruim, mas também não queria me sentir mau quando estivesse sozinha, como aconteceu comigo no Natal, enquanto eu assistia TV e subitamente senti essa coisa terrível que é a ansiedade, e até então eu não entendia completamente.
 Nada está acontecendo e você tem a percepção de que algo terrível está prestes a acontecer. Na hora não pensei em buscar companhia dos meus familiares, mas depois percebi que a simples presença de alguém já melhorava bastante esse sentimento. O ruim é que não me é possível ter sempre alguém por perto. E nem é saudável não conseguir ficar bem com a própria companhia. E estou pensando nos fogos de fim de ano, que me incomodam, e possivelmente vão deixar meus gatos apreensivos. Gostaria de ter um daqueles fones que cortam o som de fora, para só assistir as luzes, mas infelizmente não tenho. Tanto para os bichos como para crianças, acredito que esses fogos barulhentos deveriam ser proibidos. E como todos estão festejando, eu tenho a impressão de que estou perdendo alguma coisa de bom. E na verdade não é nada, o fim de ano, o Natal, só é importante quando você está do lado de pessoas que te importam. E eu ultimamente só penso que minha família importa.
 Estou bem distante de amigos, e de fazer amizades sinceras, estou realmente sentindo falta disso. Busquei pensar nos meus colegas de faculdade, e percebi que a grande maioria eu desejo distância. Percebi que até alguns filmes de ação andam me fazendo mau, espero voltar ao meu normal que é total Rainha Elsa feliz no seu palácio de vidro, em breve. E com meus gatos seguros em casa. Talvez quando as festas acabarem.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Bossa Nova



 Pra mim sempre foi difícil de entender como uma cidade que é tão violenta, tenha sido o berço de um ritmo tão calmante. Que inspira tanta gente, junta tantos casais, embala sono de bebês... O período agora é de guerra contra as favelas, ou será se sempre foi? Nunca vi tantas notícias de pessoas perdendo a vida sem um bom motivo. Se é que existe motivo para tal. O Rio está vivendo uma espécie de extermínio de gente pobre. Charlie veio de família rica. Eu não. Esse já era um bom motivo para que brigássemos, as vezes, eu chamava ele de burguesinho, e ele me chamava de política de botequim. Éramos jovens demais, e estávamos apaixonados. A paixão leva as pessoas a roupantes de agressividade constrangedores para quem olha de fora. Por isso, em nossa viagem que fizemos ao Rio, na época, tudo financiado pela família dele, nós ouvíamos músicas como para equilibrar nossa relação, e nossos sentimentos em relação ao outro.
 Sabe como é complicado gostar de alguém e ao mesmo tempo por vezes querer distância dessa pessoa. Daí ela saí, e você se sente sozinho e vazio? Nós precisávamos apenas da presença um do outro, nem era necessário, e as vezes era o melhor, ninguém dizer nada. Apenas estar presente, a companhia era o mais importante. Não queríamos falar, só queríamos nos beijar, abraçar, e fazer amor ouvindo música. Além de conhecer o Brasil. Eu quando pequena viajava muito de carro com meus pais. O Charlie não, nasceu e cresceu no Rio Grande do Sul. Eu fui crescendo e perdi a vontade, além de ter mesmo um pouco de medo de viajar para muito longe. A ideia de viajar durante as férias da faculdade foi dele. Queria me levar ao Sul, conhecer seu Estado, mas eu não quis. 
 Charlie: Porque não? Você pode conhecer minha família.
 Capitu: Acho um pouco cedo para isso não?
 Charlie: Eles me perguntam se tenho amigos, queria te levar lá. E comprovar que eu estou me relacionando com seres humanos.
 Capitu: (Sorrindo) Nada contra, mas o Sul é muito frio. E não era o Sul que queria se separar do resto de nós? Vocês teriam que inventar um nome novo para virar um país independente. 
 Charlie: É bem a cara dos sulistas, pessoal meio antissocial.
 Capitu: Eu queria um dia ir no Rio de Janeiro, acho o lugar mais bonito e controverso desse país.
 Charlie: Não é meio perigoso?
 Capitu: Sim, e empolgante também.
 Depois de muita especulação e negociação, lá fomos nós ao Rio de Janeiro. Eu queria passear pelas danceterias, e conhecer os bailes funk. O Charlie queria conhecer os pontos turísticos, e torrar na praia. Fizemos os dois. Charlie não gostava da música agressiva, mas gostava de me ver dançar. O morro é frequentado muitas vezes por pessoas que não são da comunidade, estão apenas em busca da diversão. Da música, das drogas... do sexo, mas como eu já disse, o casal Síndrome do Pânico não quis se drogar. Apenas a música e a bebida já nos deixou bem perturbados. Foi muito divertido, se perder com ele por lá, fizemos muitas amizades. Agora vendo as notícias das mortes no morro pela PM, fico pensando que podia ser nós dois ali, mortos dentro de alguma viela. Estamos vivendo um governo de morte. 
 Charlie: Lembra quando a nossa vida era só diversão, depois bossa nova para acalmar e conseguir dormir tranquilos?
 Capitu: Faz tanto tempo. Você tem alguma nova companhia para circular por aí?
 Charlie: Não tenho mais. O que você vai fazer esse ano?
 Capitu: Não faço a mínima ideia, tudo que eu planejei deu errado.
 Charlie: Eu não tava afim de nada, mas você sempre me dá vontade de sair por aí. Vamos para o Rio de novo?
 Capitu: Eu acho que não é um bom momento.
 Estávamos os dois deitados na cama conversando, eu com minhas pernas jogadas em cima das pernas dele. Ouvíamos música, nosso encontro nos deixou eufóricos, e precisávamos nos acalmar.
 Charlie: É, eu vi as notícias, é muita gente perdendo a vida por nada. Como você está se sentindo?
 Capitu: Impotente.
 Charlie: Isso você não é, esse período vai passar.
 Capitu: Sempre me irritou você ser sempre tão positivo.
 Charlie: Confie. Escuta a música, se a gente se encontrou de novo é por algum motivo.
 Capitu: A gente se encontrou porque você me chamou, e eu vim.
 Charlie: E você está disponível, e precisando de mim por algum motivo. 
 Ele tinha razão.

Contínua...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

A Gente Junto Não Rola

 Estava feliz, não tinha como negar, sexo casual com o Charlie, era ao mesmo tempo que uma sobremesa deliciosa surpresa. Também era muito aconchegante e familiar, afinal de contas, já tínhamos sido casados. Eu ri muito, e ele também, porque parecia que estávamos fazendo algo de errado. E por isso mesmo foi mais gostoso ainda, eu adoro a sensação que é a minha pele contra a dele. O corpo dele geralmente é mais frio que o meu, me dá uma sensação de refrescância tocá-lo no começo da transa. Mas depois que a gente foi se fundindo, nossas peles tinham a mesma temperatura, e até mesmo o mesmo cheiro. Um cheiro novo, a mistura de nós dois formava uma nova fragrância. 
 Eu gosto tanto de sexo, que tenho uma necessidade de querer conduzir tudo, isso é um dos motivos que nem nesse momento paramos de falar. É uma transa com palavras, não ficamos em silêncio. Discutimos o tempo todo, e perguntamos o que cada um quer fazer. Eu já tive alguns namorados, que eu poderia comparar com o Ted Bundy, parecem caras legais, mas quando você vai conhecendo mais a fundo fica com medo. E a melhor solução é terminar tudo e manter distância, fingir mesmo que nunca conheceu. Um desses uma vez me prejudicou muito seriamente nos meus estudos. Ou seja, o cara era um assassino do meu futuro mesmo.
 Mas por sorte conheci o Charlie que é puro amor, e tranquilidade, que não é capaz de fazer mau a uma mosca, e com quem pelo menos enquanto durou eu tive um relacionamento estável e feliz. Foi um dos melhores períodos da minha vida. Ele só libera essa energia mais masculina de destruição na hora do sexo mesmo, e isso me agrada muito. Porque nunca sei como ele vai estar, ele não tem nenhum tipo de preconceito sexual, e topa tudo que eu peço. E nesse dia ele estava muito carente, tanto quanto eu. Ficamos juntos a noite toda, e ele dormiu comigo, dormi segurando a sua mão entre as minhas. Nunca gostamos de conchinha, ou dormir abraçados, no máximo nossas pernas entrelaçadas. 
 Eu acordei primeiro que ele, e pude ter alguns minutos de observar quem eu amei tanto dormir tão tranquilamente. Não queria que ele acordasse e a gente caísse na real, era domingo, e tínhamos que nos despedir, cada um seguir sua própria vida. Eu tinha em mim que não queria tentar de novo, eu não sabia o que ele pensava. Porque quando fica assim atrevido, assume uma personalidade diferente, e fala muita bobagem, apenas para se divertir e não para levar a sério. O Charlie é um pouco frio, e nunca gostou que eu dissesse que o amava. Ele só disse que me amava uma vez, quando fui assistir sua peça, e fiquei acordada até o final, disse que tinha achado tudo lindo. Porque tinha mesmo, nunca menti para ele. Ele encenou uma adaptação de "A Mão e a Luva" de Machado, e eu fiquei impressionada, desde o início até o final. Ele era o cara que não fica com a moça no final. Foi estupendo.E eu disse para ele. E a resposta logo veio:
 Charlie: Eu te amo Capitu. Você me ama?
 Capitu: Sim eu te amo.
  E desde então ele não gosta que eu diga que o amo, e não precisa porque vou amá-lo para sempre de qualquer jeito. Estando casada com ele ou não, sempre desejo que ele esteja bem. Agora estávamos nos dois nus na cama de solteiro, espremidos e com as mãos entrelaçadas. Eu observava sua respiração. Quando ele abriu os olhos teve alguns segundos de confusão, aparentava não se lembrar de nada, mas rapidamente se lembrou, e sorriu. Eu vi esses pensamentos na sua cabeça só pela sua expressão.
 Charlie: Bom Dia D. Capitolina.
 Capitu: Bom Dia Sr. Charles.
Charlie: Pelas dores que eu sinto no corpo parece que nosso encontro atingiu seu objetivo máximo.
 Capitu: Você já veio com essas intenções?
 Charlie: Eu vim matar a saudade de você. E a gente não decepciona mesmo, foi perfeito. Que horas é o café aqui? Tô morrendo de fome.
 Capitu: Eu acho melhor você ir embora, não quero que ninguém nos veja juntos.
 Charlie: Agora já é tarde o restaurante estava cheio.
 A cama quentinha sua respiração tão próxima, como eu estava precisando daquilo.
 Capitu: Ninguém ali ligou pra gente, agora de dia as pessoas vão perceber.
 Charlie: Eu tô morrendo de fome.
 Capitu: Meu amor, a gente junto de novo, não rola.
 Ele não gostou que eu chamei ele de "meu amor", ficou puto.


Contínua...

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Jantar Surpresa Irrecusável

  Até porque quando não é nenhuma data especial, e um monte de gente aparece do nada, você acha meio estranho. E logo procura uma forma de sair de fininho. Infelizmente saco vazio não pára em pé, e tem dias que não quero ver pessoas. Por isso, a modalidade engula tudo bem rápido, se tornou parte das minhas habilidades. Inseri Charlie nesse meu mau hábito, o de evitar pessoas e situações ao longo do nosso relacionamento. E ele que sempre foi um ser sociável por natureza foi se tornando outra pessoa por minha causa, talvez esse seja um dos motivos de termos nos separado. Viramos um só, e isso foi se tornando problemático. Sabe aquela coisa que os casais parece que viraram aqueles gêmeos super heróis que não se desgrudam, se vestem e igual e agem assim também? Pois é, ninguém nos suportava mais.
 Nos apelidaram casal "síndrome do pânico", sempre fugindo de reuniões com o pessoal cool, ou com aqueles que se acham cool. Eu adorava ter alguém com quem eu podia contar para ser bem esquisita. A família dele assim como a minha adora jantares surpresa, e nós sempre odiamos. Esse é o problema de ainda morar com os pais, do nada você acaba esbarrando com um total desconhecido na sua própria cozinha. 
 Charlie: Esse foi um dos motivos de eu ter saído de casa, ido para outro estado. Aprender a me virar sem a minha família. E o melhor lado disso, é evitar os jantares surpresa. Sabe?
 Era interessante como eu entendia exatamente o que ele queria dizer, sem ele ao menos me explicar. Será se é ruim, ser um pouco antissocial em determinados dias? Eu relaciono esse meu comportamento com a minha personalidade e também com a minha TPM. Agora o Charlie, é porque ele é o Charlie. Ele tem uma habilidade de fazer amizade com todo mundo sem realmente se aprofundar no relacionamento. Tem sempre uma parte dele, que é inacessível, a todos os seus múltiplos amigos e colegas. Ele consegue entrar em contato sem realmente se doar. Já eu sempre tive o problema de me expor demais. Não consegui aprender com ele, eu sempre falo demais, é só começar. Ele acha isso engraçado,  quando vejo já falei o que não devia.
 Várias vezes me arrependi de coisas que disse, que magoaram, ou principalmente irritaram pessoas. Por isso não gosto de surpresas, não suporto mudanças. Convivendo comigo, ele acabou virando um insetinho que se esconde nas sombras também. Acho que começamos a definhar quando ele percebeu que estava indo longe demais, mudando demais, deixando de ser quem ele era. Eu tive meu período longe da família, mas assim que terminei a faculdade, voltei a morar com eles em Brasília.
 Charlie: Quais as novas manobras pra fugir das conversas surpresa, e ir se esconder no seu quarto? Eu sei que você ainda faz isso.
 Capitu: Onde você tá morando agora?
 Charlie: Isso importa?
 Capitu: Sim.
 Charlie: Tô morando no Rio. 
 Capitu: Rio de Janeiro? Que incrível, cidade mais bonita do mundo.
 Charlie: É bom pra mim, muitos teatros, perto do mar. Eu adoro. Mas você não respondeu minha pergunta.
 Capitu: Ah sei lá, ainda me sinto ridícula, sabe como é, não olho diretamente para ninguém, para não puxarem assunto, agora tem os smart fones, finjo que tem alguma coisa muito importante para eu averiguar. Eu sou muito criativa.
 Charlie: Você não acha que está deixando de viver coisas importantes, evitando se relacionar com as pessoas?
 Capitu: Você acha?
 Charlie: Bom depois que a gente se separou ninguém mais me chama de "síndrome de pânico". E quando eu quero privacidade, disfarço muito melhor do que você, disso eu tenho certeza. O ator sou eu.
 Capitu: Eu duvido, sou campeã, em sair de fininho.
  Comemos muito bem, eu macarrão e ele peixe. Meu apetite que tinha sumido fazia uns dias, voltou com tudo. Dividimos bolo com sorvete como antigamente. As vezes tinha uma sensação esquisita de onda na cabeça, por causa dos dejavus, que nosso jantar estava acarretando. Ao ponto dele perceber, e perguntar se estava tudo bem.
 Capitu: Sim, só lembranças. Você também não está se sentindo meio solto no ar?
 Charlie: Como assim?
 Capitu: Eu ando tendo essa sensação, de desconexão.
 Charlie: Você está se cuidando? Eu andei preocupado com você, os portais de fofoca diziam que você estava tendo um surto.
 Capitu: Eu estou me cuidando, não se preocupe.
 Como eu ia dizer para ele, que boa parte do meu colapso era por causa da falta dele? Caí na armadilha de me conectar a alguém de uma forma que hoje eu vejo que não foi saudável. Ele se foi, e uma parte de mim desabou. É não é culpa dele, não é culpa de ninguém. Ficamos um tempo raspando o fundo do taxo da sobremesa e se observando. Era maravilhoso voltar a sentir o cheiro dele, e nossas mãos se roçavam de vez em quando. Ele propôs que caminhássemos um pouco, eu disse que achava perigoso.
 Charlie: Você não relaxa nunca, nada vai acontecer. Onde você está hospedada?
 Eu sabia onde ele queria chegar, com ele tudo se transforma em algo casual. Até transar com a ex esposa.
 Capitu: Nem adianta.
 Charlie: Nem adianta o quê?
 Capitu: Eu sei o que você tá tentando fazer, não é uma boa ideia.
 Charlie: Ninguém nem vai desconfiar... ( e sorriu)
 Capitu: O que? (risos)
 Charlie: Ah, você veio até aqui só pra jogar baralho? 
 Nessa conversa adorável andávamos pelo centro de SP. As ruas desertas, com pequenos grupos aqui e ali, me agradavam e muito, e ele sabia disso. Essa é a minha ideia de encontro perfeito, só eu e ele e mais ninguém. 
 Capitu: Mais quanta arrogância!
 As vezes, ele ficava assim, e isso me deixa feliz, porque no geral ele sempre era muito humilde. Parecia que na minha presença, ele podia soltar os cachorros. Ficava a vontade para ser implicante. Meu telefone tocou e era minha mãe Carolina querendo saber se eu estava bem. Charlie começou a tirar sarro de mim, parecia mesmo que tínhamos voltado no tempo e nada tinha mudado, todo esse exagero de cuidado da minha mãe sempre me irritou e foi motivo de implicância dele.
 Charlie: Deixa eu falar com ela? (sussurrando)
 Estávamos sentados em um ponto de ônibus. Fiz sinal que não, foi quando ele fingiu que ia pegar o telefone da minha mão, mas na verdade me deu um selinho. A boca dele ainda tinha o gosto do vinho que tinha acabado de tomar. Por isso, tinha o rosto de pele muito branca um pouco rosado. Eu devolvi o beijo de forma mais intensa, quando vi estávamos nos agarrando no meio da rua. Coloquei minhas pernas em volta da cintura dele, e ele apertava e massageava minhas costas, e pelo resto do meu corpo. Coisa que eu adoro, sempre fui muito nervosa, e sempre tive muita dor nas costas. Isso sempre me relaxou.
 Rosto quentinho e com gosto e cheiro de vinho, seu cabelo muito fino tinha cheiro de coco, e as roupas de amaciante barato. Charlie nunca usou perfume, eu gostava disso, seu perfume era o cheiro da sua própria pele. Doce, mas um pouco ácida. Eu consigo distinguir de longe. Não sei quanto tempo ficamos assim. E eu que só pretendia voltar para meu quarto de hotel de estudante, minúsculo e com uma cama de solteiro sozinha. Voltei com companhia. 
 Na cama nunca tivemos problemas, pelo contrário, só soluções. Ele gosta de ir tirando as peças do meu vestuário devagar. Enquanto que tira sua própria roupa de uma só vez. Eu sempre achei isso por si só um bom motivo para amá-lo.


Contínua...

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Acho Que Eu Não Superei



 Eu tô só o Júpiter Maça, muito nostálgica. Charlie, ele não saí de mim não importa o que eu faça. Charlie Ouranos Brown, nunca falei muito da procedência do meu ex. O dito cujo veio de Florianópolis, filho de um Inglês com uma Brasileira. Tem aquela aparência de adolescente eterno mesmo já adulto. Quando eu o conheci pensei: "Que garoto feio". Com o tempo achei sua esquisitice linda. Porque ele é esquisito, nunca deixou de ser. Marcou um jantar no mesmo lugar que a gente se conheceu em São Paulo, um bar-restaurante grudento, onde todo mundo esbarra em todo mundo e ninguém liga pra ninguém. Nosso tipo de lugar favorito. 
 Sempre fomos um casal que se tivesse no lugar errado chamaria muita atenção, nossa pele não combina, nossa "vibe", palavra que eu não gosto é bem contrária. Era muito comum as pessoas acharem que nós eramos primos. Ninguém olhava e dizia: "que casal bonito". Sempre um estranhamento constrangedor, por isso escolhemos esses lugares furrecas pra conversar. E beber, com ele eu bebo. Não me dá sono, não entendo a mágica disso, quando bebo sozinha a única coisa que penso é em dormir. Mas os papinhos loucos dele sempre me mantiveram acordada. E dessa vez não foi diferente.
 Lá vou eu de volta a 2013. No Bar, "Um Lugar do Caralho", claramente inspirado no clássico do Júpiter: 


 Eu estudava Relações Internacionais, e ia com a minha turminha da zoeira no final de semana falar bobagem e reclamar da vida. Nessa época Rafaela Chateaubriand era minha amiga, estudava moda, e era bem menos patricinha como é hoje. Não nos reaproximamos porque ela passou a me fazer sentir estúpida quando estou com ela. A Rafaela virou um gatilho pras minhas crises existenciais. Perguntas simples, "de onde vim, para onde vou",  "o que vou fazer da vida", se tornam um inferno na minha cabeça, que me faz pensar em tomar clonazepam, toda vez que ela está presente. Mas enfim, em 2013 isso não era um problema, ela era presença constante, e estava junto quando avistei, esse etezinho que me cativa tanto até hoje, mesmo depois de divorciados.
 Eu bebia minha espanhola de sempre, e a Rafaela com seu Champanhe para parecer mais elegante do que realmente era. E aquela bagunça, gente falando uma por cima da outra, música do Cazuza e da Bebel tocando de fundo na balburdia. Ele já estava sentado lá havia algum tempo mas eu não tinha percebido. Foi quando a Rafa disse: 
 Rafa: Tem um menino com cara de furão olhando pra você já faz uns 10 minutos, eu tô dizendo isso porque tá meio esquisito.
 Me virei, quando o encarei ele sorriu. Eu me virei de volta assustada, nunca fui muito de dar trela para os malucos do bar do caralho, sempre tinha muita gente "diferenciada" ali. 
 Capitu: Não conheço ele, ele tava me encarando?
 Rafa: Ele fica bebendo e te olhando, depois olha para o relógio, olha pra fora, e pra você de novo.
 Capitu: Deve ter levado bolo.
 Rafa: Ele é uma graça porque você não fala com ele?
 Nesse momento, uma das minhas colegas espalhafatosas derramou cerveja no meu vestido. E eu tive que me levantar, pra me secar no banheiro. Sempre me passei por bêbada, por causa dos meus amigos. Quando saí, quem estava na porta, fingindo naturalidade? Charlie, e sua roupa social clássica, um pouco amassada. Ele tava parado bem na frente, atrapalhando a passagem.
 Capitu: Com licença, eu preciso passar.
 Charlie: Eu também preciso passar.
 Capitu: Mas aqui é o banheiro feminino.
 Charlie: Não é unissex.
 Capitu: Não, o masculino é ali do outro lado. 
 Apontei, mas ele nem olhou.
 Charlie: Desculpa na verdade eu só queria falar com você mesmo. Tudo bem? Meu nome é Charlie. (E estendeu a mão para me cumprimentar).
 Eu achei o gesto dele muito formal, e engraçado. Apertei sua mão que era bem suave e quentinha, quase do mesmo tamanho que a minha. E foi aí que meu problema com as drogas começou. Porque ele sempre foi um tipo de droga para mim. Fico me lembrando desse dia, e talvez se eu tivesse saído pela janela do banheiro teria evitado muitos problemas. Mas também não teria vivido tanta coisa.
 Charlie: Eu marquei com um amigo aqui, mas ele não apareceu, ou saiu com outra pessoa, ele já fez isso uma vez e eu não aprendi. Agora eu tô aqui me sentindo deslocado...
 Ele falava e ficava olhando pro meu cabelo, pareceu que ele queria que eu oferecesse um lugar na nossa mesa barulhenta, seis meninas ao todo. Eu não ia oferecer, mas aí veio a Rafa:
 Rafa: Oi tudo bem gatinho? Num quer sentar com a gente? Assunto não falta.
 Fiz que não com ele de costas, mas a Rafaela como sempre só faz o que quer.  
 Charlie: Sim, eu adoraria. 
 E olhava para mim, super feliz. Quando ele sorria, seus olhos azuis se espremiam para mim. E meu olho esquerdo piscou a primeira vez, Charlie sempre fez meu olho esquerdo piscar involuntariamente, desde o dia que nos conhecemos. Isso é um sinal claro de stress, pra quem não sabe. Relacionamento hétero sempre foi um tema que me estressou. Fomos todos a mesa, e eu respirando fundo no meu vestido verde cheio de borboletas, que sempre foi meu preferido.
 Ele se sentou do meu lado na mesa, e pediu outra cerveja.
 Rafa: E aí o que você faz aqui em Sampa?
 Charlie: Estudo Artes Cênicas.
 Rafa: Que maneiro, você vai fazer o nesse ramo?
 Charlie: Sei lá, não sei ainda, ser ator talvez, diretor, construir cenários, qualquer coisa... eu só quero estar nesse meio para ser feliz. (E sorria sempre olhando para mim).
 Charlie: Qual é seu nome mesmo, você me disse?
 Rafa: Rafaela.
 Charlie: Ah sim, não, você das borboletas...?
 Capitu: Capitu.
 Charlie: Capitu? Capitu de quê?
 Capitu: Pra que você precisa saber meu sobrenome?
 Charlie: Não sei, achei seu nome tão diferente.
 Capitu: Estranho?
 Charlie: Estranho legal. Parece meio indígena. Você tem alguma descendência?
 Capitu: Não (risos) é só meu pai que gosta de inventar mesmo. Você também é bem estranho, parece até estrangeiro, tem um sotaque diferente, de onde é?
 Charlie: Nasci em Floripa, meu pai é inglês, acho que eu peguei o jeito dele de falar e do pessoal do Sul, e acabou desse jeito.
 Capitu: Eu gosto é charmoso.
 Charlie: Eu também gosto do seu nome.
 Ficou um silêncio estranho porque a Rafaela sempre era a mais paquerada, acho que ela percebeu que o negócio era comigo e ficou sem graça. Eu também fiquei, nesse tempo ainda era meio tímida. Começou a chover, e com o barulho da chuva o pessoal dentro do bar parece que deu uma acalmada, e passou a falar mais baixo. Essa foi minha parte favorita daquele dia. A energia elétrica ficava caindo, e os garçons começaram a acender velas por todo o bar. Sempre que a luz caía, o pessoal gritava: "AêêêÊÊÊÊêêÊ". Bem clima de quinta série mesmo. Isso fez todo mundo ali naquele dia ficar bem humorado, sorrindo a toa mesmo. 
 A Rafa começou a puxar assunto com as meninas, deixando a gente um pouco de lado.
 Charlie: E você Capitu, o que faz em Sampa? 
 Capitu: Ah eu... eu...
 Tava meio desanimada com meu curso, e não fazia ideia de que um dia ia conseguir entrar para a política. Charlie levantou as sobrancelhas, e arregalou seus olhos para mim, ele sempre se interessou por tudo que eu digo. 
 Capitu: Eu tô aqui estudando Relações Internacionais.
 Charlie: E pretende o que, trabalhar em Embaixada? Fala inglês?
 Capitu: Não falo nada em inglês, porque todo mundo se preocupa com isso? Mas tenho um sonho de entrar para a política.
 Charlie: Sei lá, com inglês você vai para qualquer lugar, mas, putz!, você é louca de se meter nisso.
 Capitu: Porque?
 Charlie: Puta ambiente cheio de gente perigosa.
 Capitu: É, esse é o Brasil né. Mas é um sonho, vamos ver no que vai dar.
 Charlie: Eu tava olhando você ali, e pensei comigo, típica aluna de literatura, errei feio...
 Risos. Assim como eu ele tem esse hábito de observar as pessoas e tentar adivinhar o que fazem da vida. Como elas são no geral, é um vício que nós temos, quase como voyers. 
 Charlie: Adorei seu cabelo (do nada), ele é muito armado, uma bagunça linda.
 Capitu: Como você é brega.
 Charlie: Desculpa eu achei...
 Capitu: Gostei do seu também tem uma cor diferente, nem castanho nem loiro, um meio termo, na luz até parece meio verde.
 Charlie: Verde? Agora você tá me zuando muito. 
 E assim muito fácil nossa conversa fluía, até hoje nunca encontrei outro com quem pudesse jogar conversa fora desse jeito tão confortável. Eu sinto falta. 
  
-

 Hoje estamos nós dois de novo no mesmo bar, agora mais silencioso, e coincidentemente tocando a mesma música, que é a minha favorita. E dele também. Um de frente para o outro, um pouco mais velhos, e mais sérios. Seus olhos me dizem que ele tá na mesma que o Júpiter, também não superou. 
  Charlie: Você continua com esse cabelo bagunçado.
 Capitu: E você continua soltando opiniões sobre os outros sem pensar direito nas consequências. E se eu fosse sensível sobre meu cabelo?
  Charlie: Você nunca ligou para a opinião de ninguém. Como eu. Eu adoro isso. Tava com saudade.
 Capitu: Eu não.
 Charlie: Não?
 Capitu: Eu tava ótima.
 Charlie: Fiquei sabendo que você visitou um psiquiatra depois de tudo que aconteceu.
 Capitu: Quem te disse isso?
 Começou a chover de novo, e a energia do lugar acabou de novo. A luz de velas mais uma vez.
 Charlie: A Rafaela.
 Capitu: (suspiro) Eu não falo mais com ela. 
 Charlie: Tá tudo bem com você.
 Capitu: Agora sim, e com você?
 Charlie: Tudo bem também.
 Ficamos olhando para a chuva.
 Charlie: Se o bar inundar que nem em Veneza, eu vou pedir isenção e nem pago a bebida.
 Isso me fez sorrir.
 Capitu: Eu menti, também estava com saudade.



Contínua...

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Yoga

 Pratico com aulas pela internet. É um caminho sem volta, yoga é uma delícia, é muito intuitivo e relaxante. Você começa e seu corpo parece que pede mais. Melhora o humor, e aumenta a libido também. O que já dá uma energizada mesmo, literalmente levanta o astral. Você fica mais a vontade com seu corpo, e portanto mais saudável. Andei acordando de madrugada com espasmos de ansiedade pelo corpo, talvez devido a medicação psiquiátrica. No dia que faço minha aula de iniciante, não acordo, durmo que nem um bebê.
 Gostaria de um dia ter a oportunidade de visitar a Índia. Os yogues são muito sábios. Não sei se é muito clichê buscar classes de yoga quando você tem um colapso. Que foi o que eu tive durante meu divórcio. Tentei, mas descobri que a prática da yoga também requer um bolso cheio de reais. No momento estou sem um tostão. Uma pena, fico imaginando eu tentando fazer amizade com meus colegas de prática, e eles querendo paz. Ao que parece, pelo menos no momento minha prática vai ser fundamentalmente íntima, eu comigo mesma. Estou na crise dos 27, agora 28, nunca pensei tanto na minha vida, passado e futuro, nem quando fazia terapia.
 Mas o negócio é real, andei me sentindo bastante esquisita, e essa sensação estranha está sumindo. Nunca deixo de pensar no Charlie, sua carreira internacional anda de vento em popa. Ele foi aceito em uma nova série de mistério, fico feliz por ele. E eu aqui pensando em voltar a estudar. Não esse ano, só no ano que vem. Aliás, o fim de ano é outro motivo para yogar. Sempre me senti muito mau com finais de ano. Não sei direito porque. Fico desconfortável. E odeio os fogos de artifício com barulho.
 Acho bonito eles no céu, mas os silenciosos, com certeza são os mais charmosos, ao meu ver. Não levo a yoga muito a sério, não vejo como prática religiosa, mas sim como algo que me faz bem, me reconecta comigo mesma, e deixa meu corpo mais saudável. Estou precisando desse tempo para mim. Estou evitando os programas  de TV, e assistindo séries mais leves, e confortantes. Tudo para prezar minha saúde mental. Fiquei com raiva de minha mãe Carolina, por não deixar eu assistir um filme de terror um dia desses. Mas agora compreendo que ela estava certa. Não estou bem para isso. Tem dias que parece que voltei a ser criança. 
 Isso é bom e mau. Por conta de Azrael, Charlie e eu mantemos contato. Ele parecia que estava em um relacionamento sério com uma atriz. Mas ao que parece não deu muito certo. Está solteiro como eu. E as vezes me manda mensagens perguntando se eu quero jantar com ele. Essas escolhas que tenho que fazer agora andam me deixando nervosa. É difícil se reaproximar dele, ficou complicado até me lembrar do porque nos separamos. Acho isso perigoso, porque se acabou foi por um bom motivo, esse que eu nem me lembro mais. Mas vou deixar o tempo decidir, não nego que ainda sinto alguma coisa por ele. Ele não mudou nada, continua atencioso como sempre foi. Essa é a característica principal que fez com que eu me apaixonasse por ele. Ele me observa, sempre com cuidado. Eu amo isso. E faz tempo que não me apaixono por ninguém. Esqueci qual é a sensação, mas sinceramente prefiro continuar assim. Me relacionando com a yoga.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Solidão

 Sempre fui uma pessoa que gosta de ficar sozinha, mas ultimamente percebo o quanto isso pode estar me fazendo mau. Talvez até encurtando a minha vida. Estou num período de pensar muito sobre a minha vida, e também a minha morte. Se eu morresse hoje, o que eu fiz de bom da minha vida. Infelizmente depois de pensar bastante cheguei a conclusão de que nada. Não terminei nada do que comecei. Estou solteira, sem rumo. Sem emprego. Como foi que eu cheguei até aqui?
 Ando pensando nas escolhas que eu fiz, que foi justamente não escolher nada. Porque? Medo. Ando com muito medo, medo de morrer, de ficar sozinha, de não ser amada, de não conseguir terminar os estudos, de não conseguir me sustentar. Tantos medos, e ninguém para compartilhar e ficar mais leve. O que me resta é escrever, porque meu psicólogo Garfield está de férias de mim.
 Voltei para a cidade onde nasci esses dias, e essa sensação de vazio aumentou bastante na interação com a cidade. Fiquei com vontade de perguntar a minha mãe Carolina, qual o motivo dela ter me colocado aqui. Sinto que não sou capaz nem de me sustentar, e um dia não terei o apoio mesmo que desequilibrado de meus pais. Todo dia me pergunto, "o que eu vou fazer de mim"?
 Não sei. E estou com medo. Não sei se vou conseguir voltar a ser como era antes, e voltar a ser feliz, sem nenhum motivo aparente. Estou vivendo um desequilíbrio enorme. Por vezes literalmente, vou calçar uma meia, e quase caio. Não estou reconhecendo nem meu próprio corpo. Eu não tinha medo de nada. Mas agora não tenho vergonha de dizer. Estou com medo. E estou só. Vou ter que reaprender a ficar bem sozinha. E escrever ajuda. 
 Queria data e horário do fim dessa minha fase de solidão.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Saí da Cadeia

 Finalmente, me sinto bem. Estou adequada a meus remédios, me sinto bem em casa, e as coisas voltam a fazer sentido. Já não sinto mais tanta falta de Charlie. E me sinto bem com meu corpo, estava me sentindo um robô, intoxicada. Me sentia na cadeia que nem o Lula, mas finalmente eu saí. Está até chovendo para fechar com chave de ouro. A única coisa que me incomoda, é a morte da minha gata Luvinha, me sinto culpada. Não sei se eu fui negligente, ou se era para ser assim. 
 Eu fiz o que eu pudia para tentar salvar, não queria que ela tivesse morrido do jeito que morreu. Não merecia, foi muito violento, e ela era muito doce. Até hoje os irmãos dela ficam miando procurando ela. Me entristece, porque também queria ela aqui, era minha favorita da ninhada. O Palácio do Jaburu (voltei para ele) parece pequeno e silencioso, ela era muito alegre, e gostava de brincar com seus brinquedos de gato, era corajosa e gentil, curiosa também. Estou sentindo muita falta dela, tinha umas patas com aparência de ter luvas, por isso Luvinha.

Saudades Luvinha, que se foi muito cedo.

 Não consigo tirar essa gata da cabeça, estou feliz, mas ao mesmo tempo triste. Isso é possível? Sim. Meu filho Azrael não teve tempo de conhecê-la. Ele ia gostar dela. Eu tenho um negócio com números, eram sete gatos, um número que era perfeito, eles eram mais alegres. Agora com o número seis eles me parecem mais tristes. Inclusive eu. Mas ao mesmo tempo mais seguros. Espero que Luvinha tenha reincarnado, ou esteja em um lugar onde ela possa, comer e brincar a vontade. Estou com saudades dela. 
 Vou voltar as atividades do meu mandato agora que saí da cadeia. Voltei a ser Presidente da minha vida. Estou fazendo muitos planos. Agora vamos ver se tudo dá certo, as coisas andam dando errado, ando cruzando com seres que só me fizeram mau. Espero não encontrar nunca mais. E se encontrar que já não me façam mau. Mas eu estou com fé, e o tempo cura tudo. Vou ter fé que tudo acontece por um motivo, é o que me tranquiliza.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Sorria

 Sou uma moça que passa uma informação pessoal errada, porque não sorrio muito. Hoje, fui abordada por um senhor dizendo que eu deveria sorrir mais. Não costumo sorrir se não vejo um bom motivo. Não tenho motivos para sorrir agora. Estou paralisada na vida, parei de estudar, Não estou trabalhando e estou fazendo tratamento psiquiátrico. Não estou com vontade de sorrir. 
 Não sou mais Presidente do Brasil e o Lula ainda está preso. Seguimos sendo guiados pelo meu pai Machado, que não se mostra ser tão ruim assim na direção do país, é só ter um pouco mais de fé. A fé é o que está me movendo a continuar, fé de que vou voltar ao meu normal. Ainda sigo com sequelas do divórcio. Minha vida as vezes parece não fazer sentido. 
 Minha mãe Carolina está cada vez mais próxima de mim, ela está me dando muito amparo. Mas também sinto pena dela, ela não merecia uma filha tão problemática. Um dia sou Presidente, no outro estou lavando os pratos, ou fazendo tratamento psicológico. Não sorrio se não tenho vontade. Voltei a comer normalmente, e dormir ainda está meio difícil, acordei três vezes de madrugada.
 As músicas que eu escutava agora não fazem mais sentido para mim, estou num período difícil. Não quero ficar trancada no quarto, mas também não tenho para onde ir. Gostaria de voltar para a faculdade, mas do jeito que estou, sem condições. O que anda me preocupando é que dependo demais de minha mãe e de meu pai. Não tenho autonomia nenhuma, e como a maioria dos brasileiros, estou cheia de dívidas. 
 Não posso sorrir agora.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Internação Diária

 O que eu achei que seria terrível, foi uma mão na roda. Internação diária é o que á. Estou com problemas psiquiátricos para esquecer Charlie, e entrei num Hospital Escola perto do Palácio da Alvorada. Foi uma das melhores coisas que já fiz, lá não conheço ninguém, não devo nada a ninguém. E estou aprendendo com os outros pacientes. Tem gente com problemas muito maiores do que os meus. Não estou em decadência estou em transformação para algo diferente.
 Agora já me sinto muito melhor diante da medicação, não é mais algo pesado, e gostei de ser atendida pelos profissionais, e alunos de lá. O Brasil tem uma ótima escola de Medicina. Gostei de como me trataram, e pretendo continuar indo para ficar melhor em casa. E ter um relacionamento melhor com Alfred que está com testes pesados no futebol, e ainda sofre pela separação de Marielle, apesar de tentar não demonstrar. 
 Eu só tenho que me preocupar em comer bem, e dormir bem também. Coisa que não estava conseguindo fazer, agora parece que vai ficar tudo bem. Mas até eu receber alta vai levar muito tempo. Ando tendo problemas com Garfield, por conta de falta de confiança e atraso no pagamento. Quero continuar com ele, mas ao mesmo tempo quero me afastar do que me faz mau. Não sei se Garfield está me fazendo bem, suas consultas são muito caras. Mas meu pai Machado quer me ajudar, então, Garfield fica em aberto.
 Minha mãe Carolina quer que eu corte laços, é tanta coisa acontecendo, que para mim é bom manter esse blog para me situar. Azrael segue sendo um bom filho, saudável e gentil. Charlie eu só ando falando por telefone, ele tem uma vida que eu não participo. E eu tenho que aceitar isso de uma vez. Mas ainda sinto saudade.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Decadência

 Vou voltar com a terapia e frequentar hospital dia, psiquiátrico, para superar meu divórcio de Charlie. Está sendo difícil, mas estou tendo apoio da família. Durante a manhã fico no hospital faço as atividades, e depois vou para a terapia. Vamos ver como vai ser, estou muito desamparada e me sentindo sozinha. Em total decadência, parece que tudo que eu fiz até agora não me valeu de nada.
 Estou desempregada, não terminei os estudos, e sofri impeachment da forma mais corrupta e rápida possível. Não estou bem. E sinto que os remédios deixaram meu cabelo fraco. Não estou comendo direito, só consigo comer coisas líquidas. E não consigo ficar parada. Por causa do efeito dos remédios estou cheia de ansiedades. Queria apenas dormir tranquila hoje, se for possível.
 Porque também estou sofrendo com insônia, nunca acordei tão cedo como estou acordando agora. Seis da manhã estou de pé. E não consigo voltar a dormir, acordo pelo menos umas três vezes durante a noite. Pareço cada dia mais com o comportamento do meu pai, que não fica parado. Nosso filho Azrael é um anjo e não dá trabalho nenhum. Muito pelo contrário anda me ajudando nos afazeres da casa. Que é enorme, pois meu pai ainda é Presidente da República.
 Fico vendo Charlie fazer sucesso com séries de TV, e fico com inveja e saudade. É possível querer o bem e o mau de alguém ao mesmo tempo? É o que eu sinto, mas ele é tão inteligente que só vai crescer na vida. Confio nele, ele é um ótimo profissional, entretenimento é muito necessário mesmo. Agora que meus dias estão tão estranhos e sem sentido, começo a perceber a importância do entretenimento na vida das pessoas.

domingo, 27 de outubro de 2019

Ansiosa

 Por nada, é assim que eu estou. Nada acontece estou me sentindo regredida como uma criança esperando minha mãe Carolina voltar. Ela agora trabalha com moda casa. Não gosto de ficar presa em casa, mas também não quero sair para lugar nenhum. Fico pensando no que meu cérebro foi capaz de fazer para me deixar assim regredida, ando assustada por nada. E não gosto mais de ficar sozinha, anseio pelo toque humano como nunca ansiei antes. Um namorado seria maravilhoso, mas está parecendo impossível.
 Amor mesmo só de mãe, minha mãe chegou e vou passar o resto da tarde com ela. Ansiedade é o mau do século, nada que você está fazendo é bom, você precisa estar sempre fazendo outra coisa, "melhor". E não tem para onde correr está só em você. Garfield não está querendo me atender porque estou em dívida com ele. Estou ficando pior ainda com isso. Cortei os remédios do Psiquiatra, estavam me assustando, não comia direito, não durmo direito. Parei, não quero mais remédio nenhum. 
 Só quero voltar a ter a vida digna que tinha quando era Presidente desse País. E hoje é aniversário do Lula, espero que esteja bem. Ele foi um dos melhores presidentes que esse país já teve.

sábado, 26 de outubro de 2019

Respeito a Minha Vontade

 Sempre fui tratada como criança por mamãe Carolina. Resolvi que vou me cuidar e não confiar em mais nenhuma opinião dela. Vou fazer terapia com o Garfield e continuar com o psiquiatra que está me receitando remédios que me castram. Não tenho forças, e passo o dia com sono. Alfred gosta de fazer parecer que eu não tenho função nenhuma em casa a não ser atrapalhar. Ele limpa tudo com muita presa e força, e eu estou sem forças para tudo.
 Quase fiquei imensamente gripada, mas por sorte tomei os remédios rápido. Fico em dúvida se minha família me ama, ou me odeia. Acredito que um pouco dos dois, nenhum deles quer ficar preso em casa. Eu passo o dia todo presa em casa e não reclamo. Tem de tudo aqui, a internet me permite viajar para vários lugares mesmo sem dinheiro.
 Minha cabeça está cada vez melhor, não ouço vozes, só as minhas próprias vozes. Ficou difícil diferenciar, mas é como se fosse uma personificação do próprio Garfield na minha cabeça, que faz eu saber como me proteger. Além do meu pai, que me protege. Mas nem sempre foi assim, e eu me lembro. Vou andar com o cachorro para espairecer. Hipócrates precisa passear e eu também.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Passarinho


Só Quando Formos Passarinhos

 Estou falida, e perdi o amor da minha vida, Charlie. Além de um pouco da minha sanidade mental. O que me mantêm em pé é meu pai Machado e meu filho Azrael. Gostaria que tudo pudesse ser diferente, mas agora não dá. Moro no Brasil e dificilmente vou conseguir sair daqui. Os novos governantes dão claros sinais de que não sabem o que estão fazendo. E eu sem poder fazer nada.
 O Lula segue preso, meu ex marido me odeia. Eu pus aparelho nos dentes depois de velha porque tive uns problemas. Gostaria de ficar melhor, voltar a ser feliz como antes. Mas está difícil, tomo meus remédios e me sinto bem, se o efeito passa, volto a ficar mau. Não estou com toda a minha força restabelecida ainda. Vou precisar frequentar hospitais especializados em tratar casos como os meus. A companhia dos meus gatos me dá um acalanto também.
 O amor da minha vida, infelizmente só vou poder ver de novo quando formos passarinhos. Ele agora vive uma realidade totalmente diferente da minha. Se mudou para Nova York, e vive bem lá. Espero que com outra que cuide dele. Porque eu estou  sendo amparada pela minha família. E também não deve estar sendo fácil para ele superar tudo isso. Meu passarinho, eu te desejo o melhor.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Sherlock Holmes

 Eu sempre fui muito observadora. Quase que uma detetive, resolvo problemas de formas simples. Mas nunca recebo crédito por isso. Talvez eu devesse andar fantasiada de Sherlock para ter um pouco mais de respeito pelo que eu sei fazer. Sou uma ótima psicóloga,só falta eu terminar de me formar. Tenho muito conhecimento adquirido, e se não fosse por isso, estava em alguma situação ridícula, porque minha família foi muito negligenciada. Não só eu. 
 Mas estou na Alvorada tentando me recuperar. O clima não sabe se chove ou faz sol, o que é o aquecimento global, não é mesmo? Eu não ia ficar bem de roupa de Sherlock dentro do Brasil, assisti um pouco da série, e senti um choque cultural muito grande. Não gostei. Talvez algum livro dele seja melhor para entender o fascínio pelo detetive minucioso. Não estou reclamando, mas eu não consegui me concentrar em tudo, a série me parece ótima.
 E sugere algum tipo de personalidade diferente do personagem que eu pensava conhecer. Como autismo está na moda, ele lembra um pouco uma pessoa com algum nível de autismo. Além de ter um sexto sentido muito apurado, não para nunca e está sempre buscando estudar alguma coisa. 
 Para solucionar os crimes ele vai além dos códigos morais. Mas ele é um personagem e ele pode, eu não. Sou investigativa por natureza, e sempre arranjo problemas por isso. E as crianças que eu acompanhei, alguma coisa de bom eu deixei com elas. Disso eu tenho certeza, espero que elas estejam bem. Também já trabalhei com grupos de adolescentes, por pouco tempo, isso deixou alguma das meninas chateada comigo. Porque voltei a Ong um dia desses e percebi o incomodo que eu causei. 
 Queria ser Sherlock Holmes para solucionar melhor meus próprios problemas. Contratá-lo eu não posso porque estou falida. Mas admiro o trabalho dele.Só falta que as pessoas respeitem mais minha individualidade, e que eu possa voltar ao meu ponto de equilíbrio. Ser Presidente do Brasil me deixou exausta, quase com Bornout. Mas eu saí antes que as coisas piorassem para mim. Porque é Brasil acima de todos, mas eu e minha saúde em primeiro lugar.

Até mais, e Obrigada pelos Peixes!

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Ando Desacompanhada

 Todos estão assim, pelo menos pelo meu olhar de dentro da minha família. Eu virei um estorvo pelo olhar de minha mãe Carolina, alguém que se tem que aguentar. Porque ando tendo crises de ansiedade, e vontade de sair andando por aí sem direção correta. O que significa isso? Significa que não superei o término com meu ex marido Charlie. As vezes ainda temos algumas brigas, por causa do nosso filho Azrael. Mas não tem como, eu quero que Azrael cresça dentro de um cultura, e ele quer que ele cresça dentro de outra.
 Gostava de chamar Charlie de meu "sorvetinho de morango com chocolate". Está sendo difícil esquecê-lo, não tenho vontade de sair com outros, aparecem alguns pretendentes, sempre com intenções de relações mais rápidas (se é que me entende). Mas não consigo, estou passando por um período de luto. Pelo fim de um casamento que tinha tudo para dar certo.
 Algo pior que a Rafa nos separou, a violência. O Brasil nunca foi tão cheio de acidentes e rombos de violência como agora. No meu mandato isso não acontecia. Tínhamos o exemplo de uma família que deixava o povo mais feliz e tranquilo. Agora, perdemos esse acalanto também. Os programas de TV me aborrecem, ou falam sobre coisas que eu já disse ou já sei, ou falam sobre tragédias. 
 Tragédia está minha vida sem meu eterno namorado Charlie Ouranos Brown, penso que talvez tenha feito merda aceitando nosso término. Ele também não arranjou alguém para me substituir e ficamos nessa. Eu agora moro no Palácio da Alvorada junto com mamãe Carolina porque não tenho onde ficar, estou falida. Charlie paga pensão de Azrael porque está fazendo muito sucesso no seu novo show. Eu não o assisto porque me entristece e ao mesmo tempo assusta. Porque tem muito de mim no texto dele. Então parei de acompanhá-lo, mas desejo o melhor para ele e seus amigos e protetores.
 Se ele me quiser de volta eu também quero ele de volta, outro apelido carinhoso que eu dava a ele é "meu furãozinho". Eu ainda o amo e desejo o melhor para ele, mesmo que não seja comigo. Agora preciso resolver minhas dívidas com Garfield que estão altas, senão eu não vou poder mais ser atendida por ele. Estou precisando nesse meu período de crise.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Impeachment

 Do seu coração. Brincadeira, Capitu sofreu impeachment graças ao comportamento estranho que teve uns dias desses. Pois uma pessoa com distúrbios mentais não pode presidir um país. Ela começou a ouvir vozes e ter sensações de outras nações, talvez devido ao caos que é ocupar um cargo tão importante. O Brasil já não era o Brasil e estava fora de sua realidade, ela precisa voltar a ela.
 Sabe como é, muitas viagens, muitos países, isso deixou ela exausta e precisa descansar. Está se cuidando, mas é tão ruim ficar só em casa, que ela está ficando louca. Apenas comer, dormir, tomar banho, tentar assistir TV, ou ler um livro, é algo que perturba. É monótono. Precisa voltar a circular, não precisa ser em cargo público não, porque ela já ficou manchada devido aos surtos psicóticos que teve.
 Apenas algo que a distraia do fato que está em prisão domiciliar no Palácio da Alvorada. Já contei que meu pai voltou a se candidatar a presidência do país? É muito provável que vença novamente.
 Enquanto isso eu faço terapia com o Doutor Garfield?
 G: Como você está hoje?
 C: Bem só me sinto presa dentro de casa.
 G: Ma você veio aqui não veio?
 C: Sim, mas não é um passeio, é terapia, e é dolorido, e nem fui eu que vim dirigindo, e eu sei dirigir. Ainda tenho motorista particular...não aguento mais.
 G: Eu sei e estou aqui para te apoiar .
 Sigo fazendo terapia mas não vou falar mais nada de muito comprometedor porque é minha privacidade, e eu só quero voltar a ter uma vida normal. Viver no Brasil, colocar o pé na realidade. Porque começo a pensar que sempre estive no mundo da Lua. O que não era ruim, mas só diferente.
 Uma música terapia:



terça-feira, 15 de outubro de 2019

Os Amores de Escorpião



Um dos mais odiados, e mais amados também.

Pressão Baixa

 Hoje parece que preciso ir ao oculista. Mas é caro. Sinto que minha vista está rui, ou é só, sono. Estou tendo pressões baixas devido as atividades de outras pessoas, como que se elas sugassem as minhas energias e minha saúde. Sempre fui de uma saúde de ferro, mas agora ando tendo insônia, e más ideias na cabeça. 
 Não quero mais ficar presa, e me sentindo mau. Por não ter feito nada de errado. Na  verdade eu só ajudo mesmo. É como se eu fosse uma lixeira. Eu tiro todo o lixo da casa. E das pessoas também, por isso, seria uma boa psicóloga. Mas não estou conseguindo me formar, porque estou doente.
 Lixeira no sentido de limpar a alma das pessoas, tentar fazer com que elas voltem a ser funcionais. Mas quem está precisando de auxílio agora sou eu. Por isso, vou só me expressar aqui. Porque estou precisando, estou sem terapeuta. Já que é assim anuncio um novo personagem, meu terapeuta: Garfield. 

O Relógio

 As horas não passam. Como já disse Capitu se divorciou, e está cada dia mais presa em casa. Não pode fazer nada de importante. Não é mais uma pessoa digna de respeito. Precisa ser controlada, e perseguida. Anda tendo alucinações auditivas, com pessoas falando sobre ela. Não sabe mais o que fazer para isso acabar. Engraçado que Alfred nunca esteve tão bem. Talvez Capitu tenha feito algo que mereça algum tipo de punição, porque cada dia é um martírio novo. 
 Além de perceber que ela está ficando dependente dos remédios. Carolina e Machado se recusam a levá-la a um hospital psiquiátrico. E na verdade nem tem mais vaga lá. Ao invés de ficar melhor está ficando pior. Pedro nunca esteve tão bem na carreira política, ele comprou um relógio novo, que marca as horas em qualquer lugar que ele estiver no mundo. Além de ser um relógio que mostra a posição dos planetas no céu. 
 Capitu tem um relógio de lua que ela não entende muito bem, as vezes. Quantas vezes professoras não tentaram ensiná-la a ler as horas nesse relógio direito. Mas é meu relógio de lua, e eu vou guardá-lo. Mesmo que eu não o entenda muito bem. Capitu está pensando em formas de arranjar um novo emprego, e um namorado. Mas ela é muito desvalorizada, então fica complicado. Quando era presidente,todos a idolatravam, agora parece que estão todos contra ela. Chamam ela de "porca", e ela até faz "oic", de vez quem quando. Está com o nariz provavelmente entupido para sempre. E tem a sensação que estão tentando conduzi-la, a fazer coisas que ela não quer. Ela não aguenta mais desenhar. Desenhou um relógio, o do Pedro que é mais cheio de aplicativos, do que os dela.

domingo, 13 de outubro de 2019

Sentido na Vida

 Assim como a Gisele Bündchen, eu queria uma vida com mais sentido. Percebo que fico muito em casa, agora sem a Presidência do País, Capitu passa seus dias fazendo coisas comuns. Comendo, assistindo TV, mexendo em jogo do celular, lavando a louça... Tudo isso no Palácio do Planalto, já que seu pai assumiu a presidência para que ela pudesse se cuidar. Enquanto todos parecem estar dentro de piscinas. Queria que essa ansiedade passasse, e arranjar um novo namorado, já que descendo morro abaixo como agora, me divorciei dele também. Charlie agora é meu ex marido. Rafaela, e Pedro seguem juntos, firmes e fortes, eles se completam, é o super herói e a mocinha que precisa ser salva. No caso dela indo ao shopping, mais próximo. E Capitu, se refugiou com sua família.
 Eu e Charlie não demos certo porque temos interesses muito distintos, ele gosta de fazer Arte, eu gosto de Governar o País. Foi terrível nosso processo de separação, mas depois de tudo que aconteceu, espero que ele encontre alguém melhor que eu. Alguém que não seja tão manipuladora, esse é meu pior lado. Faço isso mesmo sem perceber. O sol está muito forte lá fora, tenho a sensação que estão sugando minhas energias. 
 Alfred segue sendo um jogador de futebol, está indo muito bem. Mas Capitu precisa de repouso e remédios, para a ansiedade principalmente. As horas não passam, e ela já não sabe mais o que fazer para se distrair, a não ser pintar e escrever. Dormir parece agora um dever, e não um momento de relaxamento. Espero não ficar dependente dos remédios. Nosso filho Azrael, ficou comigo, as vezes ele visita o pai. Parece não ter se abalado com o divórcio, ele até gostou, vai ter duas casas, e quem sabe uma madrasta. É um menino muito forte. 
 E eu queria voltar a ter o domínio da minha própria vida, mas não sei quando vou poder ter isso de volta. Depende das idas ao psiquiatra e a psicóloga. Mas estou me cuidando do jeito que dá. Vou continuar usando meu blog para me expressar parece que me faz bem.  Me ajuda a pensar na minha vida, e no que vou fazer dela. 

                                                                                
                                              Até Mais, e Obrigada pelos Peixes!

sábado, 12 de outubro de 2019

Talismãs e Limoeiros

 Ando cheia de manias. Nunca as tive, agora uso dois colares, um que é uma pedra azul com pontinhos que parecem estrelas amarelas em forma de coração, junto de uma cruz de Cristo, e outro com um olho grego, e uma flor de lótus que segura várias pedrinhas coloridas. Nunca pensei que fosse virar uma dessas pessoas místicas. Mas ando pensando que à muitas pessoas ""encostadas" em mim. E isso anda me perturbando, por isso preciso de talismãs que me protejam, além dos meus gatos que acredito serem protetores, e limpam a casa de energias ruins.


 Tive um período muito ruim, fui ao psiquiatra pela primeira vez, e voltei a contactar meus psicólogos de plantão. O problema é que estou cheia de dívidas  e sem emprego em vista. Então, está bem complicado, mas por sorte papai Machado e mamãe Carolina, estão me dando suporte. Além do Alfred que adora cozinhar, passa o dia na cozinha fazendo bolos. Tive uns dias horríveis que eu não conseguia comer nada. Capitu estava extremamente deprimida, acho que foi esse o motivo. Não gosto de não conseguir fazer as coisas por mim mesma, foi o que mais me deprimiu. A sensação de estar presa. Além da medicação que ela ainda está tomando. Que é horrível, é dopante, ninguém deveria ser obrigada a tomar isso, mas no meu caso é preciso. Me sinto melhor agora. Muito melhor do que antes.
 Além de estar me aproximando mais da minha família, e entendendo melhor eles. Muitas das minhas paranoias, foram embora, agora que sei que estou próxima de quem me protege. E não tiro meus talismãs por nada. Sinto apenas falta de meu pai Machado que anda trabalhando muito e muito longe. Capitu teve que abandonar a Presidência do País por uns dias, devia a sua saúde mental debilitada. Mas ela tem fé que as coisas vão melhorar. E que um dia seu cargo vitalício (que é contra as leis da democracia), não seja mais deturpado.
 Perdi dinheiro de várias formas, não vou receber FGTS, e tentei ir a uma sessão do filme do Stephen King, porque estava muito ansiosa, nem com medo estava. Hoje me arrependo, mas não estava conseguindo ficar na sala. Simplesmente não conseguia focar no filme. Por enquanto vou me afastar um pouco dos filmes de terror que eu tanto gosto, preciso me cuidar. Carolina teve uma ideia incrível que me ajudou a superar um pouco da minha ansiedade. Pintar, pintei muito porcamente. Mas pintei, e lembrei dos tempos de criança, e em como era gostoso pintar sem pensar no amanhã. Meu quarto está cheio das minhas "artes". Vou continuar fazendo isso, quando estiver me sentindo mau.
 Parece que se expressar é como uma terapia de graça, e totalmente particular. Faz você voltar para a realidade.

sábado, 28 de setembro de 2019

Bocetas Viajantes

 Irlanda, Acapulco, Grécia não, mas vários outros lugares prostituta foi levada, tudo pago com o meu dinheiro. Eu não consigo ver graça nisso. Me dá ódio. Eu já tive a oportunidade de virar uma viajante bucetal, mas preferi não me envolver com esse tipo de atividade ilícita e profundamente humilhante, ao meu olhar. Não sou obrigada a compartilhar fluídos corporais apenas para ter um passaporte carimbado. Acho escroto.
 Gostaria de saber quem inventou essa moda de buceta viajante, não a dinheiro que pague a boceta porquê? Porque é necessário fingir orgasmos para ter dias de prazer em outros países e outras culturas? Que babaquice é essa? Quem organizou essa palhaçada? Eu quero saber?! Não sei. Quero se Presidente do País, e quero meu jato particular, com o Santos Dumont como piloto desta merda.
 Não dou bucetinha em troca de milhas:
 1. Buceta seca: Classe Baixa
 2. Buceta Medianamente molhada: Classe Média Baixa
 3. Buceta Molhadassa: VIP

sábado, 14 de setembro de 2019

A Capitu é Uma Criança Assombrada desde Sempre

 Tá, eu vou ajoelhar e rezar o padre nosso antes de começar, pega na minha mão esquerda, e aprende comigo a ter o "corpo fechado". Coisa que tiraram de você. Quando eu morava no condomínio morei lá dos 6 aos 12 e convivia com as crianças Aohna e Hagrid. Nós andávamos por todo o condomínio sozinhos de noite, lá dentro tem quadras de todo tipo, quadra de tênis, de futebol, gramadas com piso, enfim. Andávamos com os cães, porque era divertido e porque o Hagrid e a Aohna ganhava dinheiro com isso. Eu e meu irmãozinho Alfred apenas acompanhávamos os irmãos Weasley. Depois de andar bastante, nos sentamos na quadra mais alta do condomínio que tem a vista mais alta para o céu, e para o lago que tem dentro do condomínio.
 Quando o querido Hagrid que tinha uma mania irritante de ser bastante deslumbrado com coisas simples, olhou para o céu, viu um ponto vermelho se mexendo e encasquetou que era um Ovni. Ele fez tanto alarde que a gente começou a acreditar que fosse mesmo um Ovni, ou pode ser que era porque não se movia como um balão meteorológico. Ia para cima, para baixo, para os lados. Hagrid falou tanto e com tanto entusiasmo que fez todos nós ficarmos apavorados. Lembro de descermos correndo, para casa, com medo de ETs. Coisa que quando ele começou a apontar nem demos tanta importância. Hoje eu acho engraçado,mas lá deu medo Talvez meu amigo Hagrid também fosse ator, ele convenceu todo mundo.
 Aohna era uma das mocinhas que as vezes do nada resolvia me provocar, estava eu na puberdade, e meus seiozinhos de leite estavam em protuberância. Estava com uma blusa que transparecia isso. E ela resolveu tirar sarro desse meu momento de crescimento pessoal e sexual como um ser humano normal. Fiquei com muito ódio dela, mas não respondi as ofensas, segui a vida como sempre tentando ver as coisas mais coloridas, sabe. Quem também precisa ver as coisas assim?. Mas deixa eu contar o dia que me senti vingada dela. Morávamos numa casa pequena, estava Alfred, Capitu e mamãe Carolina. Papai trabalhava como sempre. Quando Aohna veio correndo, com o rosto todo vermelho, com uma expressão de terror, que até hoje eu me lembro. Foi a expressão dela que fez eu perceber que era real. Aohna confiava na minha mãe mais do que eu:
 Aohna: Dona Carolina, (ela tava com o cabelo todo molhado, e com uma roupa toda estranha) você não vai acreditar...
 Minha mãe pela expressão dela pensou o pior, e começou a berrar de um jeito que me incomoda:
 Carolina: O que foi menina, pelo amor de Deus?
 Aohna começou a chorar, coisa que eu nunca tinha visto vindo dela.
 Aohna: Pelo amor de Deus, eu tava tomando banho, entrei no quarto pra me vestir, e senti um negócio horrível junto de mim. Sentou na minha cama do meu lado, e parecia que tava tentando tocar em mim! 
 Carolina: Cadê seus pais, o Hagrid?
 Aohna: Não tem ninguém em casa eles foram no mercado. Me ajuda!
 Carolina: O que você quer que eu faça? Menina para de tremer!
 Aohna: Vamo lá em casa ver o que é, eu tô com medo de voltar sozinha, e se meus pais chegarem e ainda estiver lá.
 Lá fomos nós mesmo com medo, armados de vassouras, sim, vassouras. O Hagrid viu a gente chegando na casa, e quis ir lá dentro primeiro quando explicamos a situação para ele. O Hagrid gostava de se exibir para meu irmão Alfred, tinha uma queda enorme por ele. Foi entrando um de cada vez, Capitu só entrou depois de todo mundo. Ninguém viu nada. Mas Aohna continuou transtornada, foi se acalmando aos pouquinhos. Eu devo confessar que me senti de alguma forma vingada. Ela realmente não tinha sido legal comigo. 
 A fauna do condomínio era enorme, uma vez viram uma onça lá dentro, os guardas imbecis acabaram matando, meu pai me contou. Porque tiveram medo que atacasse algum condômino, eu achei de uma burrice... perguntei para meu pai porque não chamaram o IBAMA, ele não soube responder. Tinha uma mata muito fechada lá repleta de macacos, ia escurecendo e eu sabia meio que a hora pelos gritos que eles davam, que eu ouvia de casa. Quando tava sozinha, esses sons me assustavam. Não sei até que ponto, mas me lembro um dia, que comecei a ouvir, do lado dos sons dos macacos:
 Horrana, horrana (bem baixinho). Entrei para casa.
 A casa que meus pais cuidavam era num estilo muito velho, e antiquado, bem judeu, com pias de carne e leite. As vezes, minha mãe me mandava buscar alguma coisa lá dentro, quando tava escurecendo. Uma das coisas que me arrependo de fazer, foi obedece-la. Meu irmãozinho Alfred que gostava de me assustar, era uma das suas brincadeiras favoritas, veio atrás de mim dessa vez. Eu percebi que vinha, mas finge que não. Não sei porque, falar com ele teria evitado. Quando eu estava indo da cozinha para a sala, quase subindo aos quartos das casa horrível, foi quando o querido Alfinho:
 Alf: Hey, Horrana. (No mesmo tom que meu pai me chama, alarmado)
 Eu me virei.
 Alf: Buh!
 Eu não entendo até hoje porque, mas quando me virei e olhei para a expressão de não sei como, muitos dentes, e olhos bem fechados, comecei a gritar. E gritei tanto que quem ficou com medo, foi ele. Hoje, eu penso que talvez isso tenha sido um dejavu de algum passado. Você me deu um tiro? Quando eu virei era ou o Pedro, ou o Charlie com diferentes tipos de armas, brancas, de calibres, apontadas para mim. Você não concorda?